Grandes acidentes com fogo serviram de aprendizado para que se pudesse evitar novos sinistros. Então vem a pergunta: Por que ainda tem tantos edifícios em chamas?
No passado dois desses edifícios em chamas foram usados para prever melhorias. O Edifício Andraus, que teve um acidente trágico em 1972 e dois anos depois, o Edifício Joelma, ambos na região central de São Paulo.
Tragédias no passado
Andraus era um edifício utilizado com fins comerciais. Sua construção foi finalizada em 1962, dez anos antes do ocorrido. A causa do incêndio foi uma sobrecarga no sistema elétrico, no edifício de 32 andares. Apesar de ter sido várias vezes notificado pela companhia de luz da época pelo excesso de carga e seu risco, nenhuma providência foi tomada.
Ao todo foram 16 mortos e 345 feridos. O incêndio teve início no segundo pavimento e consumiu o prédio, que reunia escritórios empresariais, entre eles os das multinacionais Henkel e Siemens.
Dois anos depois, o Edfício Joelma sofreu outra tragédia, dessa vez foram 187 mortos e 300 feridos. O edifício era tomado por escritórios projetados com a ajuda de divisórias de madeiras. Somado a isso inúmeros móveis de madeira, o piso de carpete, tendência nos anos 70, as cortinas de tecido grosso, e papel, muito papel por conta das atividades profissionais ali desenvolvidas, um banco de investimentos.
Mais de 40 anos depois e novos edifícios em chamas
Mesmo com todo aprendizado, em 2018, o Edifício Wilton Paes de Almeida chocou mais uma vez. O fato inusitado foi seu total desabamento após alguns minutos de incêndio. Ao passo que, outros edifícios em chamas queimaram por horas e mesmo assim permaneceram de pé, todos em estrutura de concreto armado, assim como o Wilton Paes.
Inegavelmente, o caso foi grandemente discutido entre calculistas e a conclusão foi que a causa da ruína foi uma somatória de fatores. O edifício estava ocupado de forma desordenada, assim, foram utilizadas divisórias inflamáveis, além de existirem instalações elétricas inadequadas e utilização de gás sem os devidos cuidados. A fachada era composta por vidro, que com o calor estouraram, permitindo a entrada de mais oxigênio, ajudando a alimentar ainda mais as chamas.
A estrutura do edifício era apoiada sobre seis pilares, sendo dois deles esbeltos, por se tratarem das paredes dos poços de escada e elevadores. Justamente estes poços que foram utilizados como depósito de lixo, o que acelerou seu aquecimento. Por serem esbeltos o concreto sofreu um fenômeno chamado spalling, ou seja, o concreto estourou, fazendo com que estes dois pilares fosse à ruína total. esta somatória de fatores, levou ao desabamento do edifício.
E após o incêndio?
Nem sempre os edifícios em chamas precisam ser demolidos. Vários ensaios podem ser aplicados para entender a situação do concreto, um deles é o ensaio de ultrassom. Conforme a NBR 8802 – Concreto endurecido – Determinação da velocidade de propagação de onda ultrassônica, o ensaio de ultrassom é um método de avaliação qualitativa do concreto, utilizado para determinar a velocidade de propagação de ondas longitudinais, por meio de pulsos ultrassônicos, através de um elemento estrutural de concreto, tendo como principais aplicações: analisar a homogeneidade do concreto, detectar falhas internas de concretagem, bem como, profundidade de fissuras e outras anomalias e monitoração de variações do concreto, decorrentes do meio de agressividade em que está inserido a estrutura.
Outros métodos podem ser utilizados como a extração de testemunhos, que consiste na extração denum corpo de prova para posterior rompimento e verificação da resistência do concreto. A inspeção visual também pode ser um método complementar para a verificação do concreto.
Assim, pode-se condenar ou não uma estrutura após incêndio e, caso possível, fazer os reforços onde necessário.
Estudo de caso
Após sofrer um incêndio, um galpão industrial passou pelos ensaios citados acima e pôde-se concluir que apenas 10% da região atingida pelas chamas precisava ser demolida. O restante da estrutura pôde ser recuperada parte por reforço estrutural e outros trechos apenas recomposição superficial do concreto.
O reforço estrutural proposto, para este edifício em chamas, foi a aplicação de fibra de carbono, nas regiões onde o aço no interior do concreto foi atingido e perdeu parte de sua resistência à tração. Com efeito, a fibra de carbono serviu para compensar esta perda, tornando a peça estrutural com resistência adequada novamente.
Enfim, a vantagem da utilização da fibra de carbono é que este método não compromete a peça esteticamente, por sua esbeltes.