A crescente utilização de tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) nos revela tanto oportunidades incríveis quanto preocupações urgentes, especialmente quando se trata de privacidade. Recentemente, um artigo da Interesting Engineering trouxe à luz pesquisas inquietantes que demonstram como modelos de IA podem transformar sinais acústicos de chamadas telefônicas em um “radar passivo”, capaz de inferir movimentos e atividades em um ambiente, mesmo na ausência de câmeras. Essa capacidade levanta sérios questionamentos sobre privacidade, pois os sistemas conseguem operar de maneira invisível, apenas através dos sinais de uma ligação telefônica.
A Transformação dos Sinais em Radar Acústico
A pesquisa descrita no artigo detalha como esses modelos de IA funcionam. Quando uma chamada telefônica é realizada, os sinais acústicos como a voz e o ruído ambiente passam por modulações devido ao efeito Doppler e reflexão quando interagem com pessoas ou objetos. Os algoritmos de IA são capazes de extrair padrões únicos desses sinais, permitindo detectar a presença de pessoas, gestos ou localizar aproximadamente um indivíduo em um ambiente. Esse princípio é semelhante ao utilizado em tecnologias de detecção por Wi-Fi, que já foram amplamente discutidas e exploradas no mercado.
Oportunidades e Riscos
Enquanto as empresas buscam aproveitar essas tecnologias para oferecer novos serviços, como monitoramento residencial sem câmeras, também existe um grande potencial para abuso, uma vez que o rastreamento passivo pode ocorrer sem consentimento explícito. Consumidores, operadoras de redes telefônicas, e fabricantes de roteadores estão entre os principais stakeholders que precisam discutir formas de proteção. O risco de reidentificação, onde os padrões corporais únicos de uma pessoa possam ser inferidos, é particularmente preocupante.
Impacto no Mercado e Desafios Regulatórios
O mercado de tecnologia está presenciando uma rápida expansão de features de segurança que operam sem a necessidade de câmeras, especialmente em produtos de smart home. Isso, no entanto, vem com o preço de uma possível vigilância passiva e silenciosa. Na Europa, regulamentações como o AI Act estão sendo introduzidas para gerenciar o uso da IA de formas que poderiam violar privacidades pessoais, acrescentando uma camada de responsabilidade para as empresas que desenvolvem essas tecnologias.
Tecnologias e Metodologias Envolvidas
Em termos técnicos, o radar passivo se baseia na análise detalhada de sinais acústicos para identificações, enquanto o Wi-Fi sensing utiliza informações sobre o estado dos canais para determinar movimentos. O uso de smartphones, microfones e roteadores Wi-Fi são cruciais para o funcionamento desses sistemas, mas sua eficiência depende diretamente de como os sinais são processados e interpretados pelos modelos de machine learning e deep learning.
O Que Podemos Esperar do Futuro?
Prevê-se que o desenvolvimento dessa tecnologia e sua incorporação em produtos de consumo sejam acompanhados de um aumento no escrutínio regulatório, principalmente no mercado europeu. Esta evolução oferecerá novas oportunidades para assistências residenciais, segurança e automação, mas as empresas precisarão estar atentas a regulamentações emergentes e assegurar que práticas de privacy by design sejam uma prioridade.
Reflexão do Time do Blog da Engenharia
- A tecnologia avança em passos largos, trazendo consigo a necessidade de uma reflexão ética e regulatória mais profunda.
- A adoção de inovações sem avaliação de impacto pode resultar em riscos indesejados à privacidade do usuário.
- O equilíbrio entre utilidade tecnológica e proteção da individualidade precisa ser mantido.
Via: https://interestingengineering.com/culture/ai-radar-phone-call-privacy-threat
