O jogo eletrônico PacMan é um clássico dos games. Desenvolvido nos anos 1980, sobreviveu às inovações tecnológicas e aos consoles modernos de videogames, tanto que ainda é jogado por crianças e adultos nos dias de hoje. Nele, uma cabeça em geral amarela, com uma boca enorme, come pastilhas espalhadas em um labirinto, ao mesmo tempo que foge de fantasmas. Essa diversão da pré-história da computação é a inspiração para um projeto que pode gerar bilhões de reais para os cofres da Vale, o maior grupo de mineração brasileiro. A companhia, em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), procura bactérias ou fungos comedores de cobre. O objetivo é retirar o mineral absorvido por esses micro-organismos para reprocessá-lo e colocá-lo à venda no mercado.
“É um projeto revolucionário e único na área de mineração”, afirma Luiz Mello, diretor do Instituto Tecnológico Vale (ITV). A pesquisa está em curso na mina do Sossego, em Carajás (PA), que começou a ser explorada em 2004. Nesse local, existe uma barragem com 20 mil metros cúbicos de água – o equivalente a oito mil piscinas olímpicas – onde foram jogados 90 milhões de toneladas de rejeito com um teor de 0,07% de cobre. Numa conta simples, levando-se em conta o preço atual do minério, a Vale acrescentará R$ 2,8 bilhões de receita bruta ao seu faturamento anual, se conseguir recuperar 100% do cobre. O valor é maior do que o R$ 1,2 bilhão que a mineradora investiu entre 1997 e 2004 na implantação da mina.
“O cobre é um elemento químico que está ficando escasso”, afirma Mello, para justificar o projeto. O metal é um dos mais importantes do ponto de vista industrial e largamente utilizado em fios e cabos. O investimento nessa pesquisa é de R$ 15 milhões. A Vale está aportando apenas R$ 3 milhões. O restante saiu de uma linha de financiamento do BNDES. O projeto ainda está em sua fase inicial e tem duração de cinco anos. Cerca de 20 pesquisadores do Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica da USP atuam na caçada à bactéria ou ao fungo mais comilão. Eles já estiveram em Carajás e identificaram 35 micro-organismos apreciadores de cobre. Os cientistas, no entanto, ainda vão coletar mais amostras.
Nessa etapa, é importante identificar qual deles tem maior potencial para digerir a maior quantidade possível de cobre. Só depois é que os pesquisadores trabalharão em uma forma de retirar o cobre do micro-organismo para ser reaproveitado economicamente. “Tenho certeza de que vamos conseguir concluir esse projeto com sucesso”, diz o engenheiro químico Cláudio Oller, coordenador da pesquisa e professor titular da USP. Os fungos e bactérias coletados na barragem de Sossego serão analisados em laboratório da USP. No ano que vem, pesquisadores da universidade serão enviados a Carajás onde farão os testes com os micro-organismos em tanques ao lado do lago. Essa fase é importante porque as bactérias gourmet precisam ser avaliadas em seu ambiente natural.