Em uma região que sofre com chuvas mal distribuídas ao longo do ano, uma técnica simples ajuda a manter a umidade do solo e pode duplicar a produção agrícola.
Apesar de o volume de água do planeta ser constante, alterações no seu ciclo já provocam a escassez do líquido vital em algumas regiões. O Brasil também conhece os problemas do desequilíbrio na distribuição da água. Para amenizar isso, tecnologias simples, como a construção de barragens subterrâneas em pequenas propriedades, têm mostrado efeitos práticos positivos, especialmente na região do semiárido.
Por lá, as estações do ano se dividem em oito meses secos e quatro chuvosos, o que dificulta a produção agrícola. Conforme explica o engenheiro agrônomo Elder Prado, da Unidade de Semiárido da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mesmo dentro desse período de chuvas o volume de água não é distribuído com regularidade.
Ele aponta dados significativos: a cada dez anos, produtores locais colhem apenas duas safras de milho e três de feijão que podem ser consideradas boas. “As outras são baixas ou com perda total”. Apesar do risco, o plantio desses produtos faz parte da cultura do semiárido, uma vez que são alimentos comuns na mesa das famílias da região.
Alternativa – As barragens subterrâneas são usadas como uma alternativa para evitar essa quebra na produção – voltada especialmente para a subsistência das próprias famílias. A técnica não é nova. Prado explica que o modelo que a Embrapa ensina aos produtores é uma adaptação de conceitos seculares, passados inicialmente de forma empírica. A empresa organizou material didático impresso que ensina como montar a barragem. O conteúdo também foi disponibilizado na internet.
O agrônomo explica que as barragens não são depósitos para a coleta de água, mas uma forma de manter a umidade nos poros do solo. A construção é relativamente simples, mas a eficácia depende da declividade, tipo de solo, profundidade e salinização. Uma vala profunda e estreita é aberta até atingir uma camada maciça do solo. Dentro dela, é instalada uma lona presa ao fundo que vai funcionar como uma barreira. O solo é recolocado na vala e a cobertura plástica forma um muro de contenção que evita o escoamento da água, mantendo o solo úmido por mais tempo.
A área de influência da barragem depende de sua extensão e da quantidade de chuvas no ano. O agrônomo explica que em anos de precipitação bem distribuída a barragem pode garantir uma segunda colheita. “A primeira é irrigada pelas chuvas do período, e a segunda pelo prolongamento da umidade assegurado pela barragem”, conta.
Custo diluído – O custo para a instalação varia conforme o tamanho, profundidade ou o preço do aluguel de maquinário, mas fica em torno de 5 a 6 mil reais, que acabam diluídos ao longo dos anos. “Temos barragens subterrâneas feitas em 1980 e que continuam funcionando perfeitamente”, lembra Prado.
Na avaliação de Prado, o método é eficaz e pode ser associado a outras técnicas – como a construção de cisternas. “Para o sucesso da agricultura familiar, o importante é maximizar a produção, e as barragens são uma técnica que atende essa finalidade e que pode ser usada também no cultivo de outras espécies ou mesmo frutas”, sugere.