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Gestão de carbono, o legado da Camargo Corrêa para o meio ambiente

Programa pioneiro e inovador adotado pela construtora há dois anos é importante agente mobilizador para transformações que ajudam a amenizar os efeitos do aquecimento global

O alerta já foi dado em 2007: a tendência é que a temperatura média do planeta tenha uma elevação entre 1,8ºC e 4ºC até 2100. A projeção é do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão vinculado ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que reúne mais de 2,5 mil cientistas de aproximadamente 130 países.
O aumento da temperatura poderia levar a cenários de desequilíbrios climáticos como aumento do nível dos oceanos, verões mais frios, invernos mais quentes, maior incidência de chuvas de alta intensidade e a ocorrência de fenômenos naturais de maior intensidade.
Para conter esse aumento da temperatura e suas eventuais consequências, um dos caminhos a serem trilhados é a diminuição da redução dos gases do efeito estufa (GEE), entre eles o dióxido de carbono (CO²), principal fonte poluidora que tem origem na queima de combustíveis fósseis para a geração de energia (veículos automotores, processos industriais) e também no desmatamento de florestas.
A Agenda Climática do Grupo Camargo Corrêa, desenvolvida em 2009 com a participação de 150 executivos, foi a responsável pela definição técnica das metas relacionadas à mitigação e à redução da emissão de gases do efeito estufa (GEE) nos trabalhos realizados pelas empresas do Grupo. A partir dela surgiram ações como o Plano de Gestão de Carbono, implantado pela Construtora Camargo Corrêa. Iniciado em 2009, o projeto fez a mensuração da quantidade de gases que a construtora emite em seus processos cotidianos. Em seguida, identificou-se como seria possível reduzir tais emissões e foram estabelecidas metas para que o plano saísse do papel.
Ao todo, a construtora avaliou 32 empreendimentos, entre 2009 e 2010 e, com base no inventário, instituiu a meta de reduzir a emissão de GEEs em suas operações em 21% e 37% até 2016 e 2020, respectivamente.
“Com ações muito simples a gente consegue bons resultados na redução de emissão gases do efeito estufa”, diz Kalil Farran, Gerente de Sustentabilidade da Construtora Camargo Corrêa. De acordo com ele, várias atividades já se traduziam em esforços de redução e já agregavam valor por diminuir custos. Ele cita como exemplo o desmatamento evitado nos canteiros de obras, mesmo legalmente autorizado. Uma das principais fontes de emissões da empresa, apontada pelo trabalho, é a supressão vegetal, ou seja, a retirada de obstáculos naturais e artificiais do local onde será instalado o canteiro de obras de um empreendimento. “É algo que tem potencial de redução de custo na medida em que deixamos de gastar com uso de equipamentos mecânicos e mão de-obra, além de otimizar o cronograma do empreendimento. É uma nova visão de engenharia sob como alocar as estruturas dentro da obra”, diz ele.
De acordo com o inventário de carbono, somente neste aspecto, a empresa reduziu 26% da área de desmatamento em 30 obras inventariadas de 2009 a 2010.
“Otimizamos todo o canteiro de obras, reduzindo as áreas de florestas a desmatar. Poderíamos até abrir áreas mais próximas para instalar o canteiro de obras, mas optamos por implantar as estruturas em locais mais afastados, porém, áreas onde já não existia mais floresta”, diz Marcelo Ulisses Hoff, engenheiro de meio ambiente da Construtora Camargo Corrêa que trabalha na obra da Usina Hidrelétrica Jirau.
De acordo com Farran, Gerente de Sustentabilidade da Construtora, na obra da UHE de Jirau, em Porto Velho, ao preservar aproximadamente 66% da área autorizada para o desmatamento, houve economia de R$ 12 milhões.
O projeto envolveu ainda a elaboração do Programa de Treinamento dos Gestores, que resultou no Guia para Gestão de Carbono, documento que passou a ser utilizado por todas as obras. Além de envolver os seus principais stakeholders, a construtora buscou engajar seus profissionais, para que fosse desenvolvida uma cultura interna de reconhecimento dos benefícios e impactos das decisões tomadas nas mudanças climáticas.
“Sinto-me gratificado, como profissional de meio ambiente, por ter contribuído para desenvolver o plano de gestão do carbono”, diz Hoff.
Ações implantadas
Com o Plano de Gestão de Carbono, outros procedimentos foram alterados no cotidiano da Construtora Camargo Corrêa. Para auxiliar os gestores das obras, foi criado o Manual do Canteiro Sustentável, um guia para que sejam adotadas medidas de redução dos impactos ambientais e das emissões, além do melhor atendimento aos prazos e indicadores de produtividade nas construções.
Ao invés de viagens, os profissionais passaram realizar teleconferências com maior freqüência. Nos laboratórios, a empresa realizou testes para substituir combustíveis por alternativas menos poluentes, como o biodiesel. Além disso, os motoristas dos canteiros de obras passaram por treinamentos para aprender a otimizar o uso do combustível.
O consumo de energia também caiu depois que passou a ser controlado por um sistema informatizado e as caldeiras passaram a ser movidas a gás. O ar-condicionado deu lugar a uma versão mais ecológica, que reduziu as emissões de gases do efeito estufa. No canteiro de obras, ganhou mais espaço a Engenharia de Valor, conceito que diz respeito à substituição de processos e materiais por mecanismos menos poluentes.
Case – UHE Serra do Facão
José Augusto Braga, que atua junto à Diretoria de Engenharia da Construtora Camargo Corrêa, foi um dos responsáveis por uma das ações que integram o Plano de Gestão de Carbono da empresa. Na obra da UHE Serra do Facão, no estado de Goiás, concluída em 2010, a equipe inovou ao reduzir o consumo de cimento e, consequentemente, as emissões de gases do efeito estufa.
A obra foi executada com 95% de Concreto Compacto com Rolo (CCR), material produzido com até 60% de escória (um resíduo gerado na produção de minérios), ao invés do clínquer, matéria-prima utilizada no método convencional que exige a queima e, consequentemente, a emissão de gases do efeito estufa. “A tecnologia empregada já era conhecida, mas na Camargo Corrêa inovamos por utilizá-la com este caráter ambiental”, diz Braga.
Além disso, a areia artificial foi produzida a partir de rocha oriunda da escavação obrigatória da fundação da estruturas. “Com a utilização da areia artificial e substituição na totalidade da areia natural dragada do rio, deixamos de degradar o meio ambiente “, diz Braga.
O Plano de Gestão de Carbono está alinhado com a Política Nacional de Mudanças Climáticas e já é reconhecido no mercado como importante medida de conscientização ambiental e transformadora. É também pioneira no setor de construção pesada no Brasil, um grande consumidor de combustível fóssil, energia elétrica, cimento e aço.
“Outras empresas do setor estão olhando esse tema, têm algumas ações em andamento, mas o plano da Camargo Corrêa é diferenciado, pois foi estruturado com uma visão muito clara e com estratégia muito bem definida”, diz o engenheiro especialista em energias renováveis Ernesto Cavasin, diretor de Sustentabilidade na PriceWaterhouseCoopers, uma das mais renomadas empresas de consultoria do mundo, e consultor da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Carbono (Abemc). “A Camargo Corrêa trouxe uma meta para redução da emissão dos gases do efeito estufa, e o diferencial é a forma como estruturou estratégia para alcançar essas metas”, aponta Cavesin.

Como é feito o cálculo de Gases do Efeito Estufa
O cálculo da quantidade de gases que as empresas do Grupo Camargo Corrêa emitem, entre elas a Construtora Camargo Corrêa, é baseado em três escopos:
1º Emissões Diretas: são fontes de propriedade da empresa ou controladas por ela (combustível da empresa, veículos próprios);
2º Emissões Indiretas: aquisição de energia (elétrica, vapor ou calor) de terceiros e consumida pela empresa;
3º Emissões Indiretas Opcionais: produzidas fora da fronteira operacional estabelecida no inventário (ar condicionado, viagens de negócio, lixo, produção de insumos).
GLOSSÁRIO
Aquecimento global – Termo utilizado para o aumento da temperatura do planeta Terra. Especialistas afirmam que, nos últimos anos, o aquecimento tem sido causado principalmente pela alta concentração de poluentes na atmosfera e, também, pela ação humana. De acordo com o IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o aquecimento será mais intenso nos continentes do que nas áreas oceânicas e mais no hemisfério norte do que no sul. Além disso, o aumento da temperatura promete acabar com as diferenças entre as estações do ano, prejudicando safras inteiras devido ao excesso de calor e chuva em épocas erradas.
CO2-equivalente – Como os gases do efeito estufa têm efeitos diversos no clima, foi preciso estabelecer uma “moeda” de padronização. O carbono equivalente é calculado multiplicando-se a quantidade de emissões de um determinado gás multiplicado pelo seu efeito no clima.
Combustíveis fósseis – São os materiais finitos que se extraem da terra, como o carvão, petróleo e o gás natural. Eles são formados a partir da decomposição de matéria orgânica, como animais e plantas, através de um processo que leva milhares de anos. Esses combustíveis correspondem a mais da metade das fontes de energia do mundo, servindo de base para a atividade industrial e de transportes.
Efeito Estufa – Fenômeno que ocorre quando alguns gases, atuando como as paredes de vidro de uma estufa, aprisionam o calor na atmosfera da Terra, impedindo sua passagem de volta para a estratosfera.
Gases de Efeito Estufa (GEE) – De acordo com o Protocolo de Kioto, há seis gases que potencializam o Efeito Estufa e devem ter suas emissões reduzidas. São eles: dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso (N2O), metano (CH4), hidrofluorcarboneto (HFC), perfluorcarboneto (PFC) e hexofluor sufuroso (SF6).
Sustentabilidade ambiental – Manutenção da capacidade de sustentação dos ecossistemas. Implica no potencial de absorção e recomposição desses sistemas, em face das interferências provocadas pelo ser humano no meio ambiente.
Fontes: Planeta Sustentável
LINKS DE INTERESSE
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change – ONU
//www.ipcc.ch/
Planeta Sustentável
//planetasustentavel.abril.com.br/
Instituto Ethos:
//www1.ethos.org.br
Site oficial da Rio+20:
//www.rio20.info/2012/
United Nations Environmental Programme
//www.unep.org/
Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vergas
//www.ces.fgvsp.br/
Brasil Engenharia
//www.brasilengenharia.com.br

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