Você já deve ter visto alguma reportagem acerca dos acidentes envolvendo os aviões da família 737 MAX. Recentemente, depois de duas tragédias fatais em menos de 5 meses, houve a proibição mundial dos voos feitos com esse modelo, tendo como resultado, prejuízos que ultrapassaram R$ 100 bilhões. Vamos entender abaixo toda a história.
O 737 MAX
A linha 737 MAX veio de uma melhoria do seu antecessor, o 737NG. O projeto envolvia a construção de uma aeronave mais potente e com redução de consumo de combustível em comparação com o seu concorrente, o A320NEO. Posteriormente, foi anunciado seus índices de eficiência: até 8% em relação ao seu adversário e até 20% quando comparado ao seu predecessor.
De acordo com informações da Boeing, a proposta foi apresentada em 2011, tendo seu primeiro voo ocorrido 5 anos depois, em 29 de janeiro de 2016. Logo após, em 2017, recebeu a certificação da Federal Aviation Administration (FAA) para entrar em operação. Em 17 de maio do mesmo ano, aconteceu a primeira entrega para a Malindo Air, entrando em serviço no dia 22.
O desempenho da aeronave provém dos motores e da sua aerodinâmica arquitetada para máxima eficiência. O desafio foi pensar em como colocar um motor maior numa aeronave com a mesma altura do 737NG. A princípio, os engenheiros solucionaram o problema avançando a posição do motor.
Contudo, estudos mostraram que essa modificação poderia desestabilizar a aeronave em certos tipos de manobras. Um novo software foi adicionado para resolver o impasse: o MCAS (Sistema de Aumento de Características de Manobra, em português). O sistema entra em funcionamento automaticamente quando percebe que o ângulo de ataque está elevado ou a velocidade está baixa.
A junção de eficiência, modernidade, desempenho e confiabilidade fez com que o modelo fosse altamente vantajoso. Foram mais de mil encomendas, sendo 130 destas pela companhia aérea brasileira GOL. O preço varia entre US$ 99,7 milhões e US$ 134,9 milhões.
Queda do voo Lion Air 610
Em 29 de outubro de 2018, o voo JT610 da companhia aérea da Indonésia Lion Air desapareceu dos radares 13 minutos após a decolagem enquanto ia de Jacarta para Pangkal Pinang. A aeronave de matrícula PK-LQP tinha poucos meses de uso e caiu no mar de Java, vitimando as 189 pessoas que estavam a bordo.
Diversos incidentes vinham acontecendo na aeronave nos dias anteriores ao do acidente. Pilotos já vinham alertando sobre falhas nos sistemas de indicação de velocidade e altitude, sendo realizadas algumas manutenções. No voo que antecedeu o do acidente, houve o mesmo problema, sendo solucionado pelo comandante que desligou o sistema, mantendo desativado durante todo o voo.
O erro voltou a acontecer no voo JT610. Tendo informações imprecisas dos computadores, o piloto solicitou dados à torre de controle para efeitos de comparação. Nesse meio tempo, recebendo informações erradas do sensor, o MCAS embicou o avião para baixo por diversas vezes, tentando estabilizar a aeronave.
No relatório, foi visto que o sensor forneceu ao MCAS um ângulo de ataque 20 graus a mais do que o normal, fazendo com que o sistema colocasse a aeronave na posição de descida, mergulhando no mar com uma velocidade extremamente alta.
Queda do voo Ethiopian Airlines 302
Após exatos 4 meses e 9 dias, outra fatalidade: um desastre nos mesmos moldes da Lion Air aconteceu na Etiópia. O voo ET302 da Ethiopian Airlines que fazia a ligação entre Adis Abeba e Nairóbi caiu seis minutos depois de decolar na cidade de Bishoftu matando 157 pessoas entre passageiros e tripulantes.
A apuração dos fatores que levaram à queda indica, novamente, uma falha no sistema de velocidade e altitude, apesar do relatório final ainda não ter saído. No vídeo abaixo (em inglês), o CEO da Boeing, assume a culpa da empresa:
É aparente que em ambos os voos o sistema MCAS foi ativado em resposta a informação errada do sensor de ângulo de ataque. A história da nossa indústria mostra que maioria dos acidentes são causados por uma série de eventos. É novamente o caso, e sabemos que podemos quebrar esta série de eventos nos dois acidentes. Como pilotos disseram para nós, a ativação errônea do MCAS pode adicionar mais carga de trabalho, que já é alta. É nossa responsabilidade para eliminar esse risco. Nós temos a solução e iremos fazer.
Dessa forma, todos os alertas se acederam após dois acidentes num minúsculo intervalo de tempo e com um mesmo modelo de aeronave. Diante da incerteza dos motivos que causaram as ocorrências – os estudos da queda voo da Lion Air ainda não tinham sido finalizados – o 737 MAX foi proibido de circular até uma segunda ordem.
Atualizações no 737 MAX
Um grupo de agências, lideradas pela FAA, que tratam sobre aviação civil definiu as melhorias que a Boeing deveria implementar para a volta das operações com a aeronave. O MCAS foi redesenhado, passando a ter mais um sensor a seu favor, totalizando dois, sendo que se um apresentar defeitos, o sistema é desligado.
Conforme solicitado, os manuais foram totalmente refeitos. O treinamento dos pilotos também passou por reformulação. Toda a tripulação deverá fazer treinamentos constantes através de um simulador de como operar com MCAS e realizar testes para verificar os conhecimentos acerca da aeronave.
Por último, após 20 meses parado, 4400 horas de voos de testes, 400 mil horas de trabalho, o 737 MAX passou por uma recertificação junto à FAA para voltar a operar. No dia 25 de novembro de 2020, houve a liberação de voos com o equipamento no Brasil, sendo realizado o primeiro voo depois de toda a saga no dia 09 de dezembro de 2020.