Primeiro experimento laboratorial no espaço da empresa prevê pesquisas envolvendo o vírus da Covid-19; objetivo é acelerar (e muito!) o desenvolvimento de medicamentos.
A conhecida farmacêutica Cimed, com fábrica em Pouso Alegre, Sul de Minas, é a primeira do setor na América Latina a ingressar na ciência espacial. “Somos a primeira farmacêutica nacional a investir no desenvolvimento da ciência espacial. Vamos disputar no mercado das multinacionais”, é parte do comunicado de João Adibe Marques, presidente da empresa. O projeto terá um investimento de aproximadamente R$ 300 milhões. Proteína do vírus Covid será levada para estudo no espaço, em dezembro.
Cimed X é um projeto de longo prazo do grupo, que é a terceira maior farmacêutica do Brasil. O objetivo é pesquisar e desenvolver novos produtos e moléculas até mesmo no espaço. O projeto começou há apenas cinco meses. No começo de dezembro, o presidente do grupo esteve na Nasa, em Cabo Canaveral para lançamento oficial.
O presidente citou também sobre o projeto Cimed X que, segundo ele, querem alavancar o desenvolvimento científico nos próximos anos. Ousar ao investir em pesquisas e novos produtos é uma marca que Adibe registrou no pronunciamento. “Sabemos que toda pesquisa tem seus riscos. Estamos habituados ao risco, sem risco não existe o negócio. Somos disruptivos. É o nosso DNA.”
Estudo espacial com vírus da Covid-19
Proteína do SARS-Cov-2 será levada ao espaço como o primeiro experimento do Cimed X, informa a empresa. A segunda fase vai simular a ação do aparelho digestivo humano com teste de absorção de vitaminas por leveduras.
O pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Celso Benedetti explica que o experimento é parte de pesquisa para “revelar a estrutura atômica da proteína nucleocapsídeo do vírus SARS-CoV-2 ligada a uma molécula de RNA”. Ele acrescenta que não foi possível obter cristais da proteína N (nucleocapsídeo) em solo e que no espaço pode haver êxito.
O espaço como laboratório farmacêutico
Estudos científicos no espaço podem colocar o Brasil em destaque nessas pesquisas, nos próximos anos, analisa a empresa. O motivo é o investimento de R$ 300 milhões durante cinco anos, por meio do novo projeto. As parcerias fechadas para a primeira fase são com a empresa de logística espacial Airvantis e o CNPEM. Esse último já prepara amostras a serem enviadas para o espaço em dezembro.
A etapa é para experimento de cristalização de proteínas no espaço, metodologia que já existe há mais de 20 anos para gerar cristais de proteína com melhor qualidade através da microgravidade.
Amostras serão enviadas para o módulo japonês da ISS, KIBO, em parceria com empresas nipônicas e agência espacial do Japão (JAXA). O experimento brasileiro será feito por três meses com um astronauta em órbita. Se o resultado for positivo, o material será levado para o acelerador de partículas do centro de pesquisa em Campinas (SP). Um estudo por cristalografia pode avaliar como a proteína age no organismo e interage com possíveis medicamentos.
De olho no futuro
O presidente da farmacêutica pensa em usar pesquisas espaciais para desenvolver novos produtos nas áreas de medicina regenerativa e preventiva. Já o projeto inicial de análise da proteína N do vírus Covid, visa resultados para compreender como o vírus age e encontrar tratamentos e vacinas eficazes.
Lucas Fonseca, CEO da Airvantis, considera que “há muitas oportunidades a serem exploradas no campo da medicina e da biologia em termos de experimentos espaciais”. Para ele é importante “colaborar na realização de trabalhos brasileiros na Estação Espacial Internacional”.