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COVID-19: revelando o invisível com a tecnologia a serviço da cultura

Na equação insolúvel “saúde versus economia”, a cultura ocupa um lugar especial. Atividade essencial para alguns, locais de infecção para outros, o debate continua enquanto os espaços culturais permanecem fechados.
Há mais neste debate do que apenas uma demanda setorial. Além das reclamações de profissionais da cultura, há uma falta de compreensão em relação à natureza uniforme e inequívoca da proibição. Isto levanta a questão de uma análise mais detalhada baseada na ciência para diferenciar os locais de acordo com os riscos que eles representam, tanto para o público como para os profissionais.  Não deveríamos aplicar um princípio de análise científica ao invés de um princípio de precaução, e utilizar novas tecnologias?
Nesse sentido, a Filarmônica de Paris é um bom exemplo de como tecnologias de modelagem de fluidos da indústria aeronáutica têm sido utilizadas para simular os riscos de propagação aérea do coronavírus em uma sala de concertos.
Baseando-se em sua experiência com estudos realizados em hospitais, engenheiros especializados criaram um Gêmeo Virtual da sala de concertos Pierre Boulez, posicionando espectadores “virtualmente doentes” em pontos críticos para medir os riscos de propagação do vírus.
O resultado é contraintuitivo: dadas as características da sala e de seu sistema de ventilação, ao reduzir o fluxo de ar em 50%, ao invés de aumentá-lo, reduzimos significativamente os riscos de disseminação do vírus. De acordo com especialistas, o grande salão da filarmônica tem características únicas que o tornam mais ou menos equivalente a um espaço ao ar livre.
Este estudo é baseado nas características específicas deste salão e não pode ser generalizado. Esta é a questão central do debate atual: levar em conta as características distintivas dos locais abertos ao público e estudar os riscos para poder tomar decisões direcionadas.
Os Gêmeos Virtuais abrem novos horizontes. Eles revelam o invisível e permitem testar e otimizar decisões sem riscos que, por predefinição, não têm outra alternativa a não ser alinhar todos com o menor denominador comum: fechados até novo aviso.

Foi demonstrado que o coronavírus se espalha pelo ar por meio de secreções do nariz e da boca. Compreender a física do fluxo de ar e para onde as gotículas transportadas pelo ar potencialmente contaminadas irão viajar pode ajudar a determinar quais ações podem ser tomadas para diminuir seu impacto.
Para isso, já existem plataformas digitais para revelar o invisível e avaliar e demonstrar, por exemplo, a colocação eficaz de ventiladores dentro da sala de aula e a melhor forma de configurar a disposição e distribuição dos assentos entre os alunos, o que pode minimizar o risco de exposição ao vírus.
Embora as simulações tenham demonstrado que a utilização de máscaras reduz a propagação de gotas de um aluno para outro, as máscaras não estão sendo utilizadas em todos os locais, infelizmente.
Por isso, estudar a movimentação do vírus é fundamental para termos residências, escolas, ambientes de trabalho, aeroportos, hospitais e espaços públicos mais seguros – apoiando, inclusive, para a reabertura das atividades culturais. Sem dúvida, a tecnologia pode, mais uma vez, salvar vidas.
ALEJANDRO CHOCOLAT

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