Ataques, acidentes, incidentes, vítimas! Afinal, como é que podemos falar sobre os encontros não agradáveis entre os humanos e tubarões? Quem são as vítimas? Para te responder, vamos explicar alguns conceitos:
- ataque é definido como a ação que causa um dano ou injúria a alguém;
- acidente é o acontecimento em si, é o acontecimento que ocorreu o dano;
- vítima é quem sofreu o dano, e;
- incidente significa um evento não planejado, mas que tem o potencial para ter um acidente, ou seja, tem potencial para ter um dano.
Então, se incidente é um evento não planejado, a partir do momento que alguém entra no mar sabendo que tem risco de ser mordido por um tubarão deixa de ser um incidente, não é mesmo?
Bom, agora nos conte uma coisa, o que leva uma pessoa a entrar no mar sabendo que é uma zona de alto risco? Diversos mergulhadores mergulham com tubarões, mas temos certeza que nenhum entraria no mar pra tomar banho em uma praia que tem diversos fatores contribuindo para a ocorrência de incidentes com esses animais. O lugar mais seguro é não entrar na água.
Neste sentido, nós preparamos esse artigo para te informar, alertar e levantar uma reflexão sobre os encontros não agradáveis entre os humanos e tubarões.
Vamos começar falando sobre a importância deles!
Os tubarões são predadores de topo de cadeia que desempenham um papel importantíssimo no equilíbrio dos ecossistemas marinhos. Os tubarões ajudam a manter a saúde de todo o ecossistema; contribuem com a eliminação das carcaças de animais mortos e na remoção de animais doentes e fracos; controlam a taxa populacional de diversas espécies de mesopredadores, evitando o desequilíbrio das cadeias tróficas; além disso, sua presença influencia no comportamento de diferentes espécies, como tartarugas e dugongos, contribuindo para a recuperação de alguns habitats como recifes de corais e bancos de gramas marinhas.
Apesar dessa grande importância ecológica, esses animais estão entre os grupos de vertebrados mais ameaçados do mundo!
A sobrepesca e perda de habitat são as principais causas de redução das suas populações.
A fama de “comedores de humanos” que, embora extremamente injusta, predomina em muitos lugares do mundo, acaba dificultando ainda mais a conservação desse grupo tão ameaçado.
Felizmente, os tubarões não fazem jus a essa fama, sendo registrado em média 4 mortes por ano por ataques de tubarões em todo o mundo, um valor absurdamente baixo, principalmente se levarmos em conta que, além desses animais estarem distribuídos por todos os oceanos, o número de pessoas que se envolvem em atividades recreativas aquáticas é altíssimo.
Infelizmente, em alguns locais em Pernambuco, como Recife, a junção de fatores antropogênicos com fatores naturais tem contribuído para o aumento de interações negativas entre humanos e tubarões.
Diversos impactos causados na região costeira de Pernambuco, incluindo a criação do Porto de Suape (vista do porto no vídeo a seguir), afetaram áreas de alimentação e reprodução de várias espécies marinhas e estuarinas.
Essas alterações forçaram muitos desses animais a procurarem por áreas mais adequadas, e alguns fatores como a direção das correntes costeiras e a presença de um canal próximo as praias no trecho entre Pina e Candeias, facilitaram para que os tubarões passassem a utilizar essas áreas.
Portanto, nessas regiões, é extremamente importante que as pessoas sigam as orientações e respeitem as sinalizações para evitar possíveis incidentes.
Afinal, não estamos no cardápio dos tubarões!
Mas existem medidas que possam reduzir esses encontros não agradáveis entre humanos e tubarões?
Algumas medidas podem ser tomadas para reduzir ainda mais os riscos de incidentes com esses animais, isso inclui:
- Evitar horário em que os tubarões são mais ativos, como ao amanhecer e no final da tarde;
- Não entrar no mar sozinho, visto que se trata de animais oportunistas;
- Evitar entrar no mar no período chuvoso, uma vez que a visibilidade da água diminui, dificultando a identificação de suas presas;
- Não entrar na água com ferimentos, pois eles podem ser atraídos pelo sangue mesmo a uma longa distância;
- Também não entrar com objetos que reluzem, pois esse brilho pode ser confundido com as escamas de peixes;
- É recomendado não entrar no mar após ingerir muita bebida alcoólica.
É sempre importante lembrarmos que é errado dizer que os tubarões infestam o mar, pois na verdade esse é o ambiente natural deles.
Além disso, se uma média de 4 mortes por ano é o suficiente para considerarmos esses animais como monstros, então como deveríamos ser considerados, visto que matamos mais de 11 mil tubarões por hora?
Portanto, precisamos pensar nas nossas ações, e nos conscientizarmos e sensibilizarmos sobre a importância de contribuirmos para a conservação dos tubarões, pois se tem uma coisa que todos nós dependemos, é de um oceano saudável.
Shark ask you for help!! Save them!! They are not thirsty for human blood!
Esperamos que este pequeno textinho possa ter esclarecido sobre a VERDADE por trás da fama “de vilão” dos tubarões. Qualquer dúvida é só deixar nos comentários ou entrar em contato.
Fontes:
- HAZIN, F. H. et al. A shark attack outbreak off Recife, Pernambuco, Brazil: 1992-2006. Bulletin of Marine Science, 82(2): 199-212, 2008.
- BORNATOWSKI, R. R. et al. “Buying a Pig in a Poke”: the problem of elasmobranch meat consumption in Southern Brazil. Ethnobiology Letters, 6(1): 196-202, 2015.
- HEITHAUS, M. R. et al. State‐dependent risk‐taking by green sea turtles mediates top‐down effects of tiger shark intimidation in a marine ecosystem. Journal of Animal Ecology, 76(5): 837-844, 2007.
- RUPPERT, Jonathan LW et al. Caught in the middle: combined impacts of shark removal and coral loss on the fish communities of coral reefs. PloS one, 8(9): e74648, 2013.
- ISAF – https://www.floridamuseum.ufl.edu/shark-attacks/
Veja também a letter que Bianca Rangel publicou no início de agosto na @sciencemagazine, que fala sobre como o Brasil pode proteger os tubarões globalmente. Para versão em português confira aqui.
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Escrito pela Bióloga Joyce Queiroz e pelo Colunista Engenheiro de Pesca Ivanilson Santos.
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