No panorama contemporâneo dos museus, a integração da inteligência artificial (IA) se destaca como uma inovação promissora, mas não isenta de desafios. O artigo da Artnet examina de maneira crítica o verdadeiro obstáculo que as instituições enfrentam ao adotar esta tecnologia: o tempo e os recursos necessários para acompanhar suas constantes evoluções. Enquanto alguns museus começam a fazer uso da IA para análise de dados e outras finalidades, a adoção generalizada ainda é rara. A visão defendida é que, apesar das potenciais aplicações, a liderança no uso de IA deve partir dos artistas, que podem moldar essa tecnologia em expressões artísticas inovadoras, enquanto as instituições devem se concentrar em como melhor apresentar essas obras ao público. Há, contudo, uma preocupação quanto ao desvio do foco da verdadeira experiência artística proporcionada pelas obras em exposição.
O Papel dos Stakeholders na Implementação da IA
Os principais atores envolvidos na transição tecnológica dos museus incluem diretores, equipe técnica e artística, além dos conselhos dos museus, que são peças-chave na decisão do investimento em novas tecnologias. Destacam-se também os artistas que utilizam a IA como parte de suas práticas, trazendo a tecnologia para o campo criativo e desafiando as normas artísticas tradicionais. Instituições museológicas de renome, como o Museu de Arte Moderna (MoMA), já estão explorando as possibilidades da IA, lançando projetos que integram a tecnologia a seus acervos. O público visitante, no entanto, desempenha um papel crucial, pois suas experiências e feedbacks orientarão as futuras aplicações de IA nos museus.
Perspectivas Tecnológicas e Metodológicas
A aplicação da IA em museus frequentemente envolve o uso de tecnologias como o aprendizado de máquina para análise e interpretação de dados. No cenário artístico, exemplo disso é o uso do modelo StyleGAN2 ADA na criação de obras, como visto na exposição “Unsupervised” de Refik Anadol. Este modelo de aprendizado não supervisionado permite que artistas transformem grandes coleções de imagens em novas formas de arte digital. No entanto, a utilização da IA não se limita a criações artísticas; ela também possibilita novas metodologias de curadoria, promovendo uma interação mais rica entre acervos e visitantes, proporcionando insights valiosos a partir das informações analisadas.
Histórico e Impacto Econômico
A relação entre arte e IA começou a ganhar terreno na última década, especialmente com o crescimento no uso de machine learning e geração de imagens. Este desenvolvimento incentivou debates profundos sobre o impacto da IA na autenticidade e no valor do trabalho artístico contemporâneo. Museus que investem em IA têm potencial para aumentar sua atratividade, atraindo novas audiências, o que pode se traduzir em maior receita. Além disso, o mercado de arte digital expandiu significativamente, ganhando atenção, embora nem sempre sem controvérsias. A criação e venda de arte gerada por IA, por exemplo, já renderam resultados econômicos destacados, como a venda pela Christie’s de uma obra do coletivo Obvious.
Obstáculos Regulatórios e Éticos
A aplicação de IA nos museus não se limita ao campo tecnológico, enfrentando também desafios regulatórios e éticos. No Brasil, com o Senado aprovando em 2024 novas regras para o uso de IA, há um foco maior na proteção de direitos autorais e nas restrições sobre usos comerciais. Essas regulamentações ajudam a moldar um cenário mais seguro para a aplicação responsável da IA nas artes, mas também trazem desafios sobre a liberdade criativa e o alcance ético. A introdução de normas éticas para a adoção de IA visa garantir que seu uso em ambientes culturais respeite a autenticidade e o valor intrínseco das obras.
Tendências e Previsões Futuras
O uso de IA em museus é uma tendência que deve crescer, movendo-se lentamente do experimental para o convencional, com artistas liderando este processo. Os avanços regulatórios e a crescente familiaridade das instituições com tecnologias emergentes promovem um ambiente mais favorável à inovação. O sucesso na implementação desses sistemas permitirá não só uma evolução na forma como coleções são organizadas e apresentadas, como também revolucionará o modo como o público interage e se engaja com a arte. Contudo, é necessário um equilíbrio cuidadoso para que a tecnologia enriqueça, ao invés de eclipsar, a experiência humana fundamental que a arte deve proporcionar.
Reflexão do Time do Blog da Engenharia
- É imprescindível que as instituições culturais invistam em infraestrutura tecnológica e formação contínua de suas equipes para acompanhar a evolução da IA e evitar lacunas significativas.
- A mediação entre as inovações tecnológicas e a experiência artística deve ser criteriosamente planejada, assegurando que a tecnologia complemente em vez de dominar a exposição das obras.
- A regulamentação estabelecida para o uso da IA, especialmente em relação aos direitos autorais, precisa ser constantemente revisada para acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas e suas implicações éticas.
Via: [Artnet News](https://news.artnet.com/art-world/artificial-intelligence-museums-2643892)