O carro elétrico não é nenhuma novidade. Na verdade veículos movidos a energia elétrica vem sendo desenvolvidos desde antes de 1830. Porém a limitação tecnológica da época era forte em uma época antes mesmo de Henry Ford revolucionar o processo de produção e popularizar o automóvel. Com a chegada dos telefones celulares, muita pesquisa foi direcionada à baterias, cada vez menores e mais potentes. Com isso, possibilitou-se a re-entrada do carro elétrico à discussão sobre qual o melhor modo de conversão de energia para os carros.
Debate Combustão vs Elétrico
Este debate é acalorado entre os profissionais da engenharia automotiva e possui argumentos convincentes dos dois lados. Sendo estes, predominantemente, o custo ainda a favor dos veículos à combustão e o apelo sustentável à favor dos veículos elétricos. Contudo, a força destes argumentos dependem de perspectivas e tendências de investimentos locais. Ainda assim, em geral o custo dos veículos elétricos e de baterias vem sendo reduzido e há estudos que mostram emissões equivalentes à veículos à combustão em países com energia elétrica produzida pela queima de carvão. Assim, vemos que a discussão não é nada simples.
Qual é o cenário atual dos carros elétricos?
A renovação do interesse no carro elétrico é atribuída à Tesla. Em 2008 ela lançou seu primeiro veículo, o Tesla Roadster, um veículo elétrico esportivo. A autonomia da bateria, de 200km, era fator surpreendente para os veículos elétricos e rapidamente ressurgiu a discussão sobre se seria esta a época em que o veículo elétrico tomaria conta do mercado. Contudo, não foi assim que aconteceu e ainda estamos longe de ver o domíno dos EVs (Electric Vehicle). A frota mundial hoje é estimada em mais de 1,4 bilhões de veículos, na sua maioria esmagadora à combustão, e a venda anual de veículos plug-in (híbridos e elétricos) foi de 2,2 milhões em 2019, totalizando algo acima dos 6 milhões segundo a projeção da Bloomberg.
Esses dados colocam os veículos elétricos com participação acima de 0,4% da frota mundial. Isto é, menos de 1 EV a cada 200 carros. E o crescimento deste número, que é limitado pelo número de vendas e a capacidade de produção das montadoras, fica em 0,15% do total de carros no mundo e próximo de 3% da média de 70 milhões de vendas anuais.
O que é necessário para o carro elétrico virar realidade global?
Então para que em 2025 vejamos mais carros elétricos do que à combustão nas ruas, a venda e a capacidade de produção necessitaria triplicar a cada ano. Do mesmo modo, se considerarmos esta meta(50%) para 2030, o aumento anual de vendas fica ainda em 70%, valor bastante considerável. Ainda mais, se o aumento anual de vendas se mantiver em 10%, apenas em 2070 esta meta seria atingida. Esta análise propositalmente deixa de fora fatores importantes como por exemplo o ciclo de vida dos produtos e variações da média de vendas anual (como a redução devido o impacto do corona vírus ou o movimento de mobilidade compartilhada). Apenas considerando os números de vendas e capacidade atual, este é o cenário.
Esse cálculo apenas indica que para se obter os resultados esperados pelas afirmações ousadas de visionários da tecnologia e confirmar o carro elétrico como o futuro, existe uma pressão grande nos custos de infraestrutura das montadoras na sua capacidade de produção e de venda, além do desafio tecnológico. Com isso, o debate evidencia riscos de se realizar tantos investimentos numa mudança tão brusca e simplesmente a tecnologia ainda não estar em sua maturidade para agradar os clientes que terão que optar entre veículos elétricos e híbridos, biodiesel, etanol e células de combustível. Contudo, continuar do jeito que está não é opção. Adicionalmente ao impacto ambiental, restrições governamentais cada vez mais rigorosas e o aumento do preço devido à redução nas reservas dos combustíveis fósseis, empurram a indústria automotiva para alguma decisão.
Montadoras e marcas: briga de cachorro grande
As montadoras se encontram em um período delicado, estrategicamente falando. Forçadas a mudar ou morrerem. As dificuldades são múltiplas em um mundo cada vez mais conectado de clientes fortalecidos na suas necessidades. Já se nota uma redução nos grandes grupos que dominam todas as marcas. Alianças e aquisições são frequentes. Além disso, o próprio modelo de negócios de vendas de veículos já é ameaçado pelas empresas de compartilhamento de veículos e transporte por aplicativo.
Não é certo se os carros elétricos serão dominantes no futuro próximo. É certo que ele hoje ainda não é uma realidade global e para se tornar há um salto grande. Segundo esta perspectiva faz sentido se observar o que falam as próprias montadoras. A CEO da GM Mary Barra comenta sobre os planos para um “all-electric future“. Da mesma forma, o CEO da Volkswagen Matthias Müller promete mais de “80 new electric models” até 2025. Já o vice-presidente executivo da Toyota Shigeki Terashi faz uma afirmação ousada de que até 2025 a montadora que mais vende veículos no mundo terá 50% desse volume em veículos eletrificados. A Tesla em toda sua potência de crescimento já anunciou seu planejamento, entitulado elegantemente de Master Plan, Part Deux.
Carros elétricos são futuro próximo ou distante?
Para se terminar a reflexão respondendo a pergunta inicial com outra pergunta. Se as montadoras investirem e lançarem apenas modelos eletrificados, qual seria a sua escolha, um carro usado ou um elétrico novo? E então, por essa perspectiva qual é a possibilidade do salto previsto nos gráficos?
Para mais informações sobre programas como ROTA 2030 ou como as estratégias são definidas nas montadoras, e muito mais, fique ligado no Blog da Engenharia e deixa aqui suas opiniões sobre o assunto!