Matérias apontam possíveis causas e os efeitos oriundos desta tragédia, que serão tratados no decorrer deste texto com um viés mais técnico, tendo como intuito correlacionar a falta da segurança contra incêndio ao infortúnio evento. Quando falamos de segurança contra incêndio, infelizmente, temos um cenário onde as melhorias surgem posteriormente a alguma tragédia. É possível ter essa conclusão se fizermos uma análise história de eventos que antecedem as legislações existentes atualmente.
Incêndios que marcaram a humanidade
- Roma – 64 DC;
- Amsterdan – 1421 e 1452, com destruição de 1/3 e 3/4 da cidade, respectivamente;
- Londres – 1666;
- Chicago (EUA) – 1871, com 17 mil edifícios queimados, 300 mortos, 95 mil desabrigados e 200 milhões de dólares de prejuízo a cidade;
- RJ-Gran Circus Norte Americano – 1961, que resultou em 372 mortes imediatas e 503 mortes no total;
- São Paulo – Andraus – 1972, com 31 andares atingidos, 16 mortos e 350 salvamentos por helicóptero;
- São Paulo – Jelma – 1974, acarretou em 21 andares destruídos, 179 mortos e poucas pessoas salvas por helicóptero;
- Rio de Janeiro – Andorinhas – 1986, 21 mortos e 50 feridos;
- Chiado – Portugal – 1988, acarretou a destruição de 18 edifícios construídos em 1755;
- Uruguaiana – Rio Grande do Sul – 2000, foi o incêndio ocorrido em uma creche que culminou na morte de 12 crianças entre 2 e 4 anos;
- Belo Horizonte – Canecão Mineiro – 2001, 7 mortos e 197 feridos;
- Hotel Pilão – Ouro Preto/MG – 2003;
- Santa Maria/RS – Boate Kiss – 2013, 242 mortos e mais de 600 feridos;
Lei Federal nº 13.425, de 30 de março de 2017 – “Lei Boate Kiss”.
O incêndio que atingiu região da 25 de Março, precisará de perícia para averiguação da ou das causas que resultaram no evento. Ainda assim, foi levantado que o prédio em questão não possui AVCB – Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros. O AVCB é um documento obrigatório, emitido pelo Corpo de Bombeiros que atesta a conformidade das medidas de segurança contra incêndio e pânico presentes em uma edificação. A falta dele configura alguns cenários, sendo eles:
- Edificação sem regularização junto ao Corpo de Bombeiros;
- Ausência ou erro na adoção das medidas de segurança exigidas pela legislação estadual;
- Falta de pessoal treinado para atuar no combate ao princípio de incêndio;
- Deficiência na manutenção de equipamentos, quando existentes;
- Carência de vistoria da edificação.
Se este é um tema relevante para você, deixo como dica de estudo a NT 2-17 do CBMERJ Clique aqui e fique por dentro!
O incêndio e suas características
Para melhor entendimento dos efeitos do incêndio que atingiu a região da 25 de Março, com início no prédio da Rua Comendador Abdo Schahin, 80, certamente, faz-se necessário apresentar alguns conceitos do comportamento do fogo, suas características e como ele se propaga.
Em primeiro lugar, o fogo é uma reação química totalmente necessária para a existência humana, que resulta da interação de: combustível, fonte de calor, ar e a reação em cadeia para unir esses três elementos. Em suma, pode-se dizer que fogo é combustão.
No momento em que esse fogo acontece de forma descontrolada no espaço, geralmente em um curto espaço de tempo, chamamos esse evento de incêndio. O fogo apresenta algumas temperaturas características, sendo elas:
- Ponto de fulgor: é a temperatura mínima para que um combustível desprenda os vapores necessários que, quanto em contato com o oxigênio e uma fonte de calor comecem a queimar. No ponto de fulgor, quando a fonte de calor é retirada, a chama cessa.
- Ponto de combustão: acontece de maneira semelhante ao fenômeno anterior, tendo como única diferença que ao se tirar a chama, o fogo não irá se apagar porque existem vapores suficientes para manter o fogo.
- Ponto de ignição: esta é uma temperatura em que os gases desprendidos do combustível são capazes de gerar combustão apenas pelo contato com o comburente (oxigênio), independentemente de qualquer fonte de calor.
Classificação da combustão
A combustão é determinada pela liberação de seus produtos (completa e incompleta) e além disso, pela velocidade de sua queima (viva, lenta, explosão e combustão espontânea). A seguir estes termos serão detalhados:
- Combustão Completa: Ocorre quando o combustível reage perfeitamente com o comburente e como resultado não gera resíduos. Ex: chama de um fogão.
- Combustão Incompleta: É aquela que libera os resíduos que não foram totalmente consumidos. Ex: fumaça.
- Combustão viva: Acontece em ambientes abundantes em oxigênio, e como característica, além do calor também libera chama.
- Combustão Lenta: É aquela que gera calor, mas não chama. Um bom exemplo desta forma de combustão é uma churrasqueira.
- Explosão: Como o próprio nome diz, trata-se de uma combustão rápida e violenta.
- Combustão espontânea: Pode acontecer que com alguns materiais, geralmente vegetais, que entram em combustão por atingir seu ponto de ignição.
O incêndio na região da 25 de Março é um exemplo de combustão incompleta, observem os resíduos de fumaça densa.
Incêndio atinge região da 25 de Março por transferência de calor
Todos os conceitos abordados anteriormente tinham o intuito de estruturar um pensamento para que este tópico fosse visto. Assim sendo, a transferência de calor é a forma como essa energia (calor) vai se propagar, podendo acontecer de três maneiras diferentes, sendo elas:
- Condução: Calor transferido por contato direto.
- Convecção: Transferência de calor por fluidos, líquidos ou gases.
- Radiação: É uma transferência que ocorre por meio de ondas eletromagnéticas.
Para os três casos, pode-se utilizar o exemplo de uma panela, conforma figura abaixo:
O incêndio que atingiu a região da 25 de Março, aconteceu em um prédio comercial de dez pavimentos, localizado na Rua Comendador Abdo Schahin, nº 80, no centro de São Paulo. Teve início às 21:00 horas do dia 10 de julho e durou mais de 63 horas.
Assim sendo, por ser uma edificação irregular, provavelmente, não contava com medidas passivas e ativas para o combate de incêndios.Ou seja, independente da causa deste incêndio, a combinação de medidas passivas e ativas proporcionaria um combate mais rápido e, consequentemente, controlaria os riscos de propagação do incêndio para outras edificações. Infelizmente, além do edifício da Rua Comendador Abdo Schahin, o incêndio atingiu por transferência de calor um prédio na Rua Barão de Duprat, uma paróquia e uma loja de artigos de festas na Rua Cavalheiro Basílio Jafet.
Em suma, este foi mais um evento para mostrar que, acima de tudo, a segurança contra incêndio deve ser tratada com mais seriedade, deixando de ser vista como uma “simples” regularização e passando a ser tratada como uma forma de preservar vidas, patrimônio e o ambiente em que vivemos.
https://www.linkedin.com/in/catharineoliveira-engseguran%C3%A7a/