Há mais de dois meses do início do conflito entre Rússia e Ucrânia já são vistos reflexos na economia e na política mundial. Além disso, de forma não menos importante, o meio ambiente e os recursos hídricos são diretamente impactados pelas guerras.
Nesta primeira parte do artigo, serão demonstradas as táticas utilizadas nas batalhas que envolvem o uso da água e dos recursos hídricos para retardar ou até enfraquecer as tropas inimigas. Vamos lá?
O que são os recursos hídricos?
Primeiramente, antes de falar dos impactos e como são afetados, precisamos entender o que significa o termo recursos hídricos. Apesar de muitas pessoas acharem que recursos hídricos e água são a mesma coisa, há diferença em suas definições.
Segundo a EMBRAPA, “a água é o elemento natural desvinculado de qualquer uso”. Já o recurso hídrico “é toda água, superficial ou subterrânea ligada à algum uso ou atividade, podendo também ser utilizada como um bem econômico”.
“Todo recurso hídrico é água, mas nem toda água é um recurso hídrico”.
EMBRAPA
Dessa forma, agora que você entendeu essa diferença, vamos ao que realmente interessa!
Ataques contra infraestruturas hídricas
Uma das principais e mais antigas estratégias de guerra utilizada é o ataque a “infraestruturas críticas”. Nesta tática, os danos acarretam grandes prejuízos à população local, ocasionando a suspensão do acesso aos recursos básicos, tais como conexões (viários, aeroportos, portos, etc.), comunicação (rádio, antenas de televisão, internet, etc.), energia elétrica e a distribuição de água potável.
Histórico
Conforme cita o portal G1, a prática de uso da desidratação e regulação da disponibilidade de água é uma prática recorrente nas histórias de guerra (Síria, Líbica, Iêmen, etc.), que teve seu primeiro registro na Guerra Peloponesa, 430 a.C.
Ainda, de acordo com o site Water Conflict Chronology o primeiro registro foi na Mesopotamia (2500 a. C.). Na ocasião, Urlama, rei de Lagash, desviou água da região para canais da fronteira, secando e privando o abastecimento de regiões próximas de Umma. O site aponta que ao longo da história, já se identificaram ao menos 1.297 conflitos envolvendo a água.
Estratégia
O uso dessa tática militar é empregue para forçar os moradores das regiões afetadas a deixarem e abandonarem seus lares de forma brutal, atingindo o principal pilar para a sobrevivência humana, o acesso à água.
Além disso, a utilização desta “arma” afeta as tropas defensivas, deixando-as com fome e sede, e consequentemente enfraquecendo todo o exército local. Assim, as cidades atacadas ficam mais acessíveis para que os exércitos avancem suas tropas sem a interferência de civis e com uma menor resistência das tropas inimigas.
Consequência na guerra atual
De acordo com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) no mês passado mais de 1,4 milhões de pessoas já se encontravam sem acesso a água potável. Havendo a possibilidade de chegar a um nível de colapso total, com o risco de mais de 4,6 milhões ficarem desprovidos do recurso.
O fato se deve principalmente aos bombardeios e ataques que danificaram o sistema hídrico de abastecimento da Ucrânia, além é claro de ataques a fontes energéticas e as infraestruturas relacionadas, que impedem o bombeamento da água bruta e tratada.
A Engenharia Hídrica como tática defensiva
Outra forma utilizada recentemente na guerra Ucrânia x Rússia, é a emprego de itens de engenharia hídrica para retardar o avanço da tropa inimiga.
Inundação de grandes áreas
A princípio, esta tática envolve a utilização de grandes estruturas de engenharia para inundar toda uma região, como a abertura ou o rompimento de comportas (em casos emergenciais).
Recentemente a Ucrânia utilizou a estratégia em um pequeno vilarejo chamado Demydiv, localizado ao norte de Kiev. A ação teve a intenção de retardar o avanço de tanques russos formando grandes áreas alagadas, para que as tropas não pudessem prosseguir.
O plano teve um grande sucesso, desempenhando um papel fundamental na defesa da tentativa de tomar a capital Kiev pelos russos, além de que abriu oportunidades para a criação de emboscadas e táticas de cerco para o exército ucraniano.
Apesar dos impactos causados na região, os moradores entendem que o sacrifício foi um “mal necessário”, trazendo uma enorme vantagem ao seu país nesta guerra.
Destruição de pontes e travessias
Do mesmo modo, a destruição das próprias infraestruturas do país, tem sido uma tática bastante empregada pelo exército ucraniano.
Por exemplo, a demolição de suas próprias pontes, fazendo com que a ofensiva se direcione por pontos específicos e estratégicos, muitas vezes havendo a necessidade da construção de pontes suspensas para atravessas os rios, facilitando a utilização de táticas de confronto defensivo e planejado.
De acordo com o levantado pelo jornal “New York Times” já foram mais de 300 pontes destruídas, que somados aos danos ocasionados pelo exército atacante à outras infraestruturas já totalizam um prejuízo de mais de 85 bilhões de dólares ao país europeu.
Conclusão
Por fim, apesar das táticas trazerem vantagens para os exércitos, quem paga a conta é o meio ambiente, que por muitas vezes sofrem danos irreparáveis. Desta forma, na parte 2 deste artigo, serão apresentados os impactos na qualidade dos recursos hídricos, do meio ambiente e da saúde humana ocasionado pela utilização destas táticas de guerra.
Já sabia das táticas militares que utilizam a água e os recursos hídricos?
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