É notório o crescimento da energia eólica no Brasil nas últimas décadas. Estamos chegando a 20 GW de capacidade instalada, sendo a energia eólica uma das fontes com maior participação na matriz elétrica nacional.
Mas o que está por trás desse crescimento?
Vários são os fatores que corroboram para o sucesso da energia eólica no país, mas iremos aqui abordar apenas o que faz os ventos tupiniquins serem tão especiais.
Dizer que um local tem um recurso eólico de excelência é dizer que os ventos ali presentes têm uma magnitude elevada e apresentam pouca variação em sua magnitude e direção.
Em outras palavras, as “jazidas de vento” são locais com ventos mais intensos e com uma direção predominante bem definida.
A energia dos ventos
A potência eólica disponível, ou seja, a potência que pode ser extraída a partir dos ventos é proporcional ao cubo da magnitude da velocidade do vento (para mais detalhes, ler o artigo “Por que os aerogeradores estão cada vez maiores?“).
Existem duas características de um terreno que influenciam o comportamento do vento local, podendo alterar sua magnitude: a orografia e a rugosidade.
A orografia está relacionada ao relevo local e, dependendo de sua forma, é possível favorecer o aumento da velocidade do vento. Essa é uma das características que fazem com que muitos parques eólicos sejam instalados nas regiões montanhosas da Bahia.
A aceleração do fluxo no topo de montanhas com inclinações suaves faz com que esses lugares sejam propícios para a exploração de energia eólica.
A rugosidade, por sua vez, está relacionada ao tipo de cobertura da superfície.
Para exemplificar, uma região coberta por gramíneas apresenta uma rugosidade inferior a uma região de mata densa. De forma geral, quanto menor a rugosidade, maior a velocidade do vento.
Mas, afinal, por que os ventos do Brasil são bons para a exploração de energia eólica?
Sabemos que as regiões brasileiras com maior destaque em energia eólica são a região Sul e a região Nordeste. Nesta última, estão instalados mais de 80% dos parques eólicos nacionais.
Falando especificamente do nordeste brasileiro, essa é uma região bastante privilegiada em recurso eólico. Sua disposição geográfica é favorecida com a intensidade e constância dos ventos alísios.
O litoral nordestino, especialmente nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, é uma das regiões com os melhores ventos do mundo.
Isso é devido ao fato dos ventos alísios serem unidirecionais e soprarem a partir do oceano (baixa rugosidade), nesse caso, e explica a quantidade de parques eólicos presentes no litoral desses estados.
A unidirecionalidade dos ventos alísios resulta em uma maior facilidade na operação dos parques, uma vez que os aerogeradores não precisam mudar de posição a todo momento buscando os melhores ventos (controle de yaw).
Isso se traduz na disposição dos aerogeradores desses parques, que ficam enfileirados, apontados para uma mesma direção.
No caso de outros estados do Nordeste, como Bahia e Pernambuco, os melhores ventos encontram-se, de forma geral, no interior dos estados, em regiões mais montanhosas, as quais aceleram o vento.
Em suma, essas são algumas das características que resultam no sucesso da energia eólica no Brasil com médias de fatores de capacidade acima de 40%, enquanto a média mundial fica abaixo dos 30%.