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Vergalhão de fibra de vidro: a galinha dos ovos de ouro da engenharia?

O vergalhão de fibra de vidro surge no mercado como uma alternativa à tradicional barra de aço utilizada nas estruturas de concreto armado. Feito com material leve, não corrosivo e reciclável, ele promete uma resistência à tração até três vezes maior que o aço. Seria o material perfeito, mas será que é tudo isso mesmo?

Com o avanço das tecnologias, a alta nos preços dos insumos para a construção civil, somado à escassez de alguns recursos naturais, surge a necessidade de reinventar as matérias primas da engenharia. Buscando novos materiais que sejam mais sustentáveis, com menor custo e que apresentem os mesmos benefícios que os usados tradicionalmente.

Acompanhamos recentemente a introdução do vergalhão de fibra de vidro no mercado, surgindo como uma alternativa à tradicional barra de aço utilizada nas estruturas de concreto armado. Feito com material leve, não corrosivo e reciclável, ele promete uma resistência à tração até três vezes maior que o aço. Seria o material perfeito, mas será que é tudo isso mesmo?

Histórico e Vantagens

Difundido e muito conhecido em outros países, o vergalhão de fibra de vidro chegou no Brasil em 2020 e está ainda engatinhando. As normas técnicas brasileiras, ainda não orientam sobre a utilização do material e em quais situações deve ser aplicado. Universidades e empresas têm se unido e investido em estudos para verificar a eficiência do material e a correta aplicabilidade na construção civil, e os primeiros resultados já demonstram algumas diferenças entre o aço e o vergalhão de fibra de vidro que podem inviabilizar o seu uso em algumas situações.

O novo produto trata-se de um composto polimérico de fibra de vidro com resinas que dão origem ao vergalhão. Apesar do pouco conhecimento acerca de todas as propriedades físicas e mecânicas, e em função de não sofrer com a ação do tempo e nem reagir com materiais corrosivos, tem sua durabilidade estimada em aproximadamente 80 anos, assegura não exigir manutenção e nem perder eficiência ao longo desse período. Mais leve que o aço, afirma uma economia em obra de até 25%.

Desvantagens

A solução é encantadora, mas tem suas desvantagens. O grande ponto que preocupa engenheiros calculistas é acerca do módulo de elasticidade, que é muito menor quando comparado ao do aço, ou seja, pode gerar maiores deformações nos elementos estruturais mesmo para baixas cargas. Outro ponto crítico, é o comportamento do material quando exposto às variações térmicas. Por ser um composto com resinas, ao atingir elevadas temperaturas pode assumir um estado de fluido viscoso, permitindo que as fibras deslizem entre si, podendo assim perder algumas de suas propriedades.

Para armar as estruturas de concreto é comum executar dobras ou ganchos para promover a correta ancoragem. Outra desvantagem é que isso é dificultado pelo vergalhão de fibra de vidro, em especial com maiores diâmetros que não admite dobras.

Outros pontos que ainda precisam ser bem esclarecidos são acerca da anisotropia do material, coeficiente de dilatação térmica e comportamentos nos estádios de deformação. Sabemos que todos esses pontos são delicados e extremamente importantes no dimensionamento estrutural. Sem a precisão dessas informações e comportamentos, o dimensionamento é uma mera estimativa, sem a certeza do seu correto desempenho e eficiência.

Recomendações

Com frequência se observa a negligência do uso do material em diversas construções. Pelo simples fato de saber a informação superficial de “mais resistente que o aço”. Assim, o que se recomenda é a aplicação do vergalhão em elementos não exclusivamente estruturais. Sendo utilizado em pisos apoiados sobre o solo e na capa de lajes como armadura de combate à fissuração.

Como ainda não há parâmetros legais, e nem muitos estudos publicados, é cedo para afirmar se o vergalhão será ou não a galinha dos ovos de ouro da engenharia, e se poderá realmente substituir o aço utilizado nos elementos estruturais. Como todo material novo que surge no mercado, é prudente, antes de qualquer coisa, entender todos os pontos positivos e negativos. Ou seja, analisar como os órgãos relacionados ao setor estão se posicionando sobre a utilização, em especial a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e principalmente, que profissionais especializados na área possam acompanhar e  orientar sobre a correta utilização.

Acredita-se que somente com o avanço dos estudos específicos, paralelo às orientações técnicas oficiais de dimensionamento e utilização, poderemos ter uma correta reprodução do comportamento do material, e assim, ampliar a aplicação ou até mesmo restringir a utilização em alguns elementos. Cenas dos próximos capítulos.

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